A aglomeração de devotos e forasteiros nas romarias e festas religiosas suscita a complementaridade profana, como feiras e arraiais. As feiras que, desde a Idade Média, surgiram neste contexto, correspondiam, em primeiro lugar, às necessidades dos peregrinos, mas acabando por atrair mais gente dos arredores, num perímetro cada vez mais alargado, consoante a notoriedade que adquiriam.

Luiz Gonzaga Pereira, 1830
Lisboa, Museu de Lisboa, MC.DES.831
A feira da Luz está ligada à romaria ao Santuário de Nossa Senhora da Luz e, tal como esta, realiza-se em setembro desde meados do século XV, embora tenha adquirido maior projeção nos séculos XVI e XVII.
No início, a feira desenrolava-se em função da romaria: barracas de comes e bebes e vendedores de medalhas, de registos de santos e de outros objetos religiosos ou devocionários. Porém, foi sendo incrementada de forma a corresponder às necessidades do consumo numa zona rural e com intensa atividade agrícola: vendedores de fruta, legumes e frutos secos; loureiros e cesteiros; negociantes de gado. A feira de gado, em particular, ganhou grande fama na região entre os negociantes de cavalos e gado vacum.
Em 1881, a Câmara de Belém, a que Carnide pertencia na altura, estipulou que a feira passasse de três para cinco dias, realizando-se o mercado de gado nos três primeiros e os restantes produtos nos seguintes.
Em 1929, a criação da linha de elétricos que ligava Carnide ao centro da capital, até aos Restauradores, facilitou o acesso à feira, o que terá contribuído para a definição de um novo calendário desde o primeiro sábado até ao último domingo de setembro, dia em que se fixou o ponto alto da romaria, com a missa solene e a procissão.
A Feira da Luz é, atualmente, organizada pela Junta de Freguesia de Carnide.
Feira, 27 de set. 2016: observação participante
O espaço ocupado pela feira da Luz é contíguo à Igreja. No entanto, a fronteira entre eles é marcada pelo som da música das múltiplas tendas em contraste com o silêncio ou com os cânticos religiosos que se sentem no adro que está cheio de pessoas que não conseguiram entrar no templo.

Set. 2015
São cerca de uma centena de feirantes que vendem loiças, quinquilharias, cestos, roupas, materiais de construção, farturas, algodão doce, febras, frangos assados e vinho.

Ser. 2015

Set. 2015

Set. 2015

Set. 2015

Set. 2015
E se os produtos que se compram e vendem são muito variados, no adro apenas se vende e se compra um: as velas. Soveral (1610) registava já no início do século XVV que, junto à igreja de Nossa Senhora da Luz, havia cinco mulheres que só viviam e se sustentavam da venda de candeias.
Misturados com a população há um grupo vestido de forma teatral e festiva. São os marchantes de Carnide, a angariar fundos, que fazem parte de um dos momentos das festas de Lisboa: as marchas populares. Estas marchas representam bairros urbanos e desfilam anualmente em público, ganhando aquele que obtiver maior votação. São aqui referidos pois consideramo-los uma manifestação de um sentimento de pertença perante os forasteiros que visitam o local.
Esta observação participante permitiu-nos considerar algumas hipóteses. Uma delas prende-se a um conjunto de especificidades culturais que a freguesia mantém, pese embora a proximidade com a capital do país seja cada vez maior, tendo em conta a rede de transportes que a serve. Por outro lado, à medida que a construção de bairros habitacionais cresce, a parte velha mantém-se pouco habitada. A existência de algumas quintas e caminhos vicinais confere-lhe traços de uma ruralidade adormecida. Neste sentido, a feira e a procissão reforçam esses traços de pertença e abrem portas a outras interrogações.
Fontes:
Lisboa. Junta de Freguesia de Carnide. (2015, 29 ago.). Feira da Luz. Carnide (sítio institucional). Acedido em http://www.jf-carnide.pt/para-a-populacao/iniciativas/FEIRA-DA-LUZ-2015/2896/
Pereira, G. (1898). O lindo sítio de Carnide. [S.l.: s.n.].
Soveral, R. (1610). Historia do insigne apparecimento de N. Senhora da Luz, & suas obras marauilhosas. Em Lisboa: Por Pedro Crasbeeck.
Documentos fotográficos
Feira da Luz
Autor não identificado, c. 1903
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Autor não identificado, s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Benoliel, J., s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Espólio Eduardo Portugal, s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Fernandes, A. J., 1961
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Goulart, A. J., c. 1960
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Guedes, P., s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Portugal, E., s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Feira da Luz
Benoliel, J., s/d
Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa
Autoria: projeto e-Carnide
Data: 2016